domingo, 4 de setembro de 2011

A formação de professores para o ensino de geometria.



Ao compreendermos o processo histórico desde a evolução humana até o desenvolvimento do currículo educacional de matemática, é indiscutível a importância do processo de ensino e aprendizagem dos conhecimentos geométricos na escola básica. Estes conhecimentos possuem aspectos fundamentais para o desenvolvimento de habilidades humanas com relação à interpretação e interação de fenômenos, espaços e objetos, e também de suas relações com o próprio indivíduo. Dessa forma, assim como discutimos nas aulas, é fundamental a compreensão do significado dessa área de conhecimento para a busca de uma prática pedagógica em prol do desenvolvimento dessas habilidades em nossos alunos.

Nesse sentido, acredito que ao refletirmos sobre os aspectos necessários às práticas de ensino de geometria em sala de aula, retomamos certas experiências que foram sendo apropriadas por nosso fazer pedagógico que vão desde as vivências enquanto alunos da escola básica, até os saberes aprendidos no processo de formação. Ao pensar sobre essa situação, aos programas de formação de professores de matemática tem relevantes responsabilidades na preparação destes para o ensino da geometria na educação básica. Pensando dessa forma, qual tem sido as contribuições destes programas para a capacitação destes profissionais? Esta não é uma pergunta fácil de responder e não pretendo respondê-la neste texto, porém este questionamento pode nos permitir algumas reflexões.

Já estudamos e discutimos o movimento de abandono histórico sofrido pela abordagem dos conteúdos geométricos na educação brasileira. Dentre vários aspectos relacionados a esse movimento, concordo com Crescenti (apud Lorenzato, 1995) que um fator importante e influenciador é o despreparo dos professores quanto ao domínio de conteúdos geométricos específicos e fundamentais para seu ensino. De fato, parte dessa fragilidade tem seus fundamentos consequentes no processo de formação que possuem, em geral, uma abordagem teórica de conteúdos geométricos descompromissada com aspectos da prática pedagógica. Diante disso, dentre outros, podemos destacar a despreocupação com estudos sobre o desenvolvimento cognitivo de alunos nos aspectos relacionados aos conhecimentos geométricos. Durante os estudos e as discussões em nossas aulas, conhecemos exemplos de estudos e pesquisas que lidam com essa perspectiva como o modelo de desenvolvimento do pensamento geométrico proposto pelo casal Van Hiele.

Dessa forma, faço parte daqueles que acreditam que um curso de formação deve possibilitar ao professor o conhecimento de ferramentas necessárias para sua atuação considerando que há elementos que só serão aprendidos e vivenciados em sua prática profissional. Porém, o que podemos perceber nos processos de formação é a abordagem superficial de conteúdos geométricos baseados em estudos de modelos axiomáticos e desvinculados de qualquer aspecto pedagógico. Percebe-se, dessa forma, que o abandono da geometria ganha espaço também em ambientes de formação e, consequentemente, é refletido e reproduzido no ambiente de sala de aula.

Portanto, acredito também que é preciso fortalecer as iniciativas de cursos de formação para o tratamento teórico e pedagógico da geometria. Diante disso, ao pensarmos na “re-valorização” do ensino e aprendizagem de conteúdos geométricos, estaremos possibilitando condições necessárias para criação de ambientes capazes de promover o desenvolvimento de habilidades e construção do pensamento matemático por nossos alunos


Referência Bibliográfica

CRESCENTI, E. P. A Formação Inicial do Professor de Matemática: aprendizagem da geometria e atuação docente. Prática Educativa, janeiro-junho, ano/vol 3 número 1 - Universidade de Ponta Grossa. Ponta Grossa: 2088, p. 84-91.

2 comentários:

  1. Colocações e reflexão muito bem feitas. Cabe ressaltar que o ensino de geometria ou é relegado a um segundo plano, muitas vezes sendo praticamente omitido, e por vezes trabalhada em uma perspectiva axiomática, como você coloca em seu texto. Se bem que neste último caso, considero relevante refletir se quando esta "abordagem axiomática" é trabalhada de forma mecanicista e reprodutora, se de fato pode ser considerada em sua totalidade. Diria que quando o aluno de fato compreende o papel que os axiomas arbitram no processo de demonstração/dedução, é um grande avanço, o que raramente ocorre devido à forma como a geometria é trabalhada no âmbito escolar. No entanto, cabe lembrar que temos outras abordagens, que não só a axiomática (visto que esta é apenas uma das facetas da geometria) que são passíveis de serem inseridas, dentre elas aquelas que focam aspectos culturais. Temos autores que discutem esses aspectos, dentre eles Ubiratan D'Ambrósio e Paulus Gerdes. Creio que serão discutidos na disciplina de etnomatemática.

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  2. Dois elementos que transparecem em seu texto que podem ser amplamente discutidos: que papel a cognição e a cultura arbitram no ensino e aprendizagem da geometria? A partir disto, cabe também perguntar: de que geometria estamos falando? De que contexto estamos falando?

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